A chave do meu peito nas mãos da saudade.

Não que a dor me persiga tanto, mas me instiga a forçar o pranto, a verter dos olhos as águas já não tenho tanto. Não que eu não suporte, suportaria até mais, mas é que me incomoda este profundo corte que a solidão me faz. Meu peito desfia aos poucos e vai inflamando lentamente, uma dor que serra a alma, dor que só sabe quem sente. Não que a dor deva matar-me, não assim, mas torna-se companheira insuportável e se apossa de mim. É uma saudade infinita, algo sem tamanho, sem medida, maior que o próprio céu, eu acho, maior que a dor da despedida. Posso conviver com ela, eu sei, mas almejo não tê-la, porque se for para tê-la e não vê-la, é preferível não sabê-la existir. Mas meu pranto é miudinho, destes pequeninos gigantes, como se fosse um desalinho, de um alinhavo de amantes. Não que a dor seja tão profunda, tão cortante que me tire a própria vida, mas é dor dilacerante, a dor mais forte e mais sentida. Sei que esquecer da dor é perecer, não senti-la e definhar, por isso me ponho a escrever a dor que ainda virá. Dor de saudade é dor carinhosa, assim como se sente a furada de espinhos, na mão que segura a rosa, assim também sente-se o perfume que exala do amor, não dá para ter a flor, sem provar dos seus espinhos, bom seria se houvessem só carinhos, mas a vida é complicada. Não existe amor no mundo, que não sofra com saudade e se existir quem o sinta é por não sentir de verdade.